sábado, 4 de dezembro de 2021

Itinerância 02/2020, Diástases Urbanas/Pinacoteca Barão de Santo Ângelo


Em fevereiro de 2020, logo antes de interromper as itinerâncias em função da pandemia, levei o Pirata de Prata para compor a exposição Diástases Urbanas, na Pinacoteca Barão de Santo Ângelo, com colegas da pós-graduação, organizada pela professora Tetê Barachini. Nessa ocasião também levei o Capeta Compiuter.


O Capeta Compiuter surgiu como uma alternativa mais portátil ao Pirata de Prata: a estrutura com ripas de madeira foi substituída por tubos de PVC e o revestimento em papelão deu lugar à lona de algodão costurada e pintada. Por dentro, um notebook e um monitor LCD. Dessa maneira, o gabinete poderia ser montado e desmontado, e sua decoração poderia ser vestida, despida e dobrada, de forma que se pudesse levar todo o conjunto numa bolsa - para o modelo itinerante, muito mais apropriado. A escolha dos materiais foi inspirada pelos mostruários portáteis de artesanato, especialmente brincos e colares de miçangas, muito comuns nos centros das cidades e associados à cultura underground que orbita o reggae.

Na Pinacoteca pude acompanhar as visitas apenas na inauguração da exposição, que foi pouco visitada em função do período em que ocorreu: em fevereiro, durante as férias da graduação, com expediente reduzido. Foi legal poder contar com visitantes que foram à exposição especialmente para ver o Pirata, assim como acompanhar a decepção das crianças com os jogos (levei uma seleção dos jogos mais experimentais) - a que sua mãe prontamente explicou justificando que não eram jogos normais, eram obras de arte. O eletricista que estava trabalhando na iluminação da exposição se mostrou muito entusiasmado com os gabinetes e conversamos bastante a respeito dos fliperamas de antigamente mas, mesmo com o meu convite insistente, não se atreveu a jogar - a galeria de arte provoca esse tipo de problema. Num espaço de arte estamos prontos pra uma fruição afastada da coisa, de forma que o videogame deixa de ser videogame - ou não se pode questionar ou não se pode tocar. A conclusão das meninas, por exemplo, foi a de que foram enganadas - pensaram que era videogame, mas era arte, e aí já não fazia sentido teimar em jogá-lo ou confrontá-lo com um vocabulário de videogame - e o conhecimento de como um videogame desconhecido pode ser é abandonado prematuramente, não se forma totalmente


Embora não me negue a participar de uma exposição quando ela aparece tão prontinha na agenda, não gosto muito dos espaços de arte. Outro dos problemas é a assepsia do cubo branco e todas suas manias expográficas, a crença no espaço de arte como neutro, clean, totalmente puro de tudo e que recebe as obras como que vindas de outra dimensão. E uma vez no espaço de arte, devem ser organizadas de modo que uma não interfira na outra, mas ao mesmo tempo estabeleçam diálogos - acho tudo isso meio louco e exagerado. Prefiro a filosofia das feiras: aperta que cabe mais um, organizando direitinho a gente faz a bagunça funcionar pra todo mundo. E na feira um videogame esquisito é só um videogame esquisito, e a gente se entende (ou desentende) com ele desse jeito.

fotografia de Dani Amorim



.

Um comentário:

  1. Realmente essa reflexão sobre como o cubo branco se impõe sobre os fliperamas me pareceu o mais relevante dessa experi~encia. E como era de se imaginar, criou um distanciamento entre as pessoas e o objeto. "Deixou de ser jogo e pasosu a ser arte", ou seja, no lugar de construir outra idéia de jogo como algo que pode tbm ser arte, pelo teu relato o cubo branco reforçou ainda mais a separação, deixando o jogo ainda mais distante do objeto de arte e a vice versa. Tbm não recusaria no teu lugar, mas é interessante perceber esses limites.

    ResponderExcluir

Skull