domingo, 5 de dezembro de 2021

Itinerância 27/11/2021, 10ª Feira do Livro Anarquista de Porto Alegre/Escola de Samba Acadêmicos da Orgia


A 10ª FLAPOA foi dividida em três dias: uma roda de conversa como abertura seguida de dois dias de feira. No segundo dia, sábado 27/11, a feira aconteceu na escola de samba Acadêmicos da Orgia, que tem um Zé Carioca pirata de mascote! Aqui ele já estava parcialmente coberto pela faixa da feira, que estava linda, uma serigrafia enorme!



A serigrafia dos punks também estava linda, na próxima feira vou ter que levar uma bandeira serigrafada com o controle derretido da Menos Playstation, vai ficar irado!

 

Pra compensar a feira de 2019, tirei bastante foto dessa vez. Tinha várias faixas, todas muito bonitas, com mensagens políticas, só ideia quente. É muito revigorante poder dar lugar ao videogame nesse contexto político e estético, longe das papagaiadas liberais da hegemonia indie e da cafonice gamer.






O Pirata de Prata estava mais compacto. Trabalhei só com metade da antiga estrutura de madeira e acrescentei dobradiças pra que pudesse ficar em pé como um biombo e ser fechado como uma maleta. Usei um monitor menor que pudesse carregar na mochila, de 10 polegadas, e acrescentei um truck de skate pra poder arrastar ele pela rua.

Projeto do gabinete modelo maleta/biombo


Vídeo demonstrando o modelo de gabinete:



Modelo do primeiro formato de gabinete, pra fins de comparação.

Janos testando o gabinete no dia 25.

Janos Biro, amigo de longa data e colega joguinista, esteve em Porto Alegre pra participar da feira com sua editora Contraciv. Acompanhou boa parte do processo de confecção do Pirata.

Pirata de Prata instalado na feira, com decoração de papel e tecido.



O Pirata foi jogado durante toda a feira, que começou às 10h da manhã (desinstalei o gabinete às 18h30). Participei de outras atividades ao longo do dia, então não pude acompanhar todo o movimento ao redor do gabinete, mas sempre tinha alguém jogando, pessoas de várias idades e gêneros. Teve um menino que ficou quase o dia todo jogando na máquina. Dava uma sumida pra brincar, aí voltava sempre com um amiguinho ou amiguinha diferente, eventualmente também apresentava o jogo a um adulto. Um jogo arcade deve cansar o jogador rapidamente e liberá-lo pra outras atividades, não sendo muito longo pra que o jogo não consuma o jogador. Deve ser um facilitador social, uma oportunidade de lazer coletivo, e não uma máquina lucrativa que se serve dos jogadores. A máquina estava rodando a versão de Mega Drive dos Telethugs, programada pelo Laudelino, direto do console (um Mega Drive III, bem compacto, perfeito pra levar na mochila). Não cobrei fichas e o dia foi de prejuízo, mas vendi alguns livros, jogos e zines no dia seguinte (que já se transformaram em outros livros na própria feira), já sem o gabinete. Foi um sucesso, eu diria.


sábado, 4 de dezembro de 2021

Itinerância 02/2020, Diástases Urbanas/Pinacoteca Barão de Santo Ângelo


Em fevereiro de 2020, logo antes de interromper as itinerâncias em função da pandemia, levei o Pirata de Prata para compor a exposição Diástases Urbanas, na Pinacoteca Barão de Santo Ângelo, com colegas da pós-graduação, organizada pela professora Tetê Barachini. Nessa ocasião também levei o Capeta Compiuter.


O Capeta Compiuter surgiu como uma alternativa mais portátil ao Pirata de Prata: a estrutura com ripas de madeira foi substituída por tubos de PVC e o revestimento em papelão deu lugar à lona de algodão costurada e pintada. Por dentro, um notebook e um monitor LCD. Dessa maneira, o gabinete poderia ser montado e desmontado, e sua decoração poderia ser vestida, despida e dobrada, de forma que se pudesse levar todo o conjunto numa bolsa - para o modelo itinerante, muito mais apropriado. A escolha dos materiais foi inspirada pelos mostruários portáteis de artesanato, especialmente brincos e colares de miçangas, muito comuns nos centros das cidades e associados à cultura underground que orbita o reggae.

Na Pinacoteca pude acompanhar as visitas apenas na inauguração da exposição, que foi pouco visitada em função do período em que ocorreu: em fevereiro, durante as férias da graduação, com expediente reduzido. Foi legal poder contar com visitantes que foram à exposição especialmente para ver o Pirata, assim como acompanhar a decepção das crianças com os jogos (levei uma seleção dos jogos mais experimentais) - a que sua mãe prontamente explicou justificando que não eram jogos normais, eram obras de arte. O eletricista que estava trabalhando na iluminação da exposição se mostrou muito entusiasmado com os gabinetes e conversamos bastante a respeito dos fliperamas de antigamente mas, mesmo com o meu convite insistente, não se atreveu a jogar - a galeria de arte provoca esse tipo de problema. Num espaço de arte estamos prontos pra uma fruição afastada da coisa, de forma que o videogame deixa de ser videogame - ou não se pode questionar ou não se pode tocar. A conclusão das meninas, por exemplo, foi a de que foram enganadas - pensaram que era videogame, mas era arte, e aí já não fazia sentido teimar em jogá-lo ou confrontá-lo com um vocabulário de videogame - e o conhecimento de como um videogame desconhecido pode ser é abandonado prematuramente, não se forma totalmente


Embora não me negue a participar de uma exposição quando ela aparece tão prontinha na agenda, não gosto muito dos espaços de arte. Outro dos problemas é a assepsia do cubo branco e todas suas manias expográficas, a crença no espaço de arte como neutro, clean, totalmente puro de tudo e que recebe as obras como que vindas de outra dimensão. E uma vez no espaço de arte, devem ser organizadas de modo que uma não interfira na outra, mas ao mesmo tempo estabeleçam diálogos - acho tudo isso meio louco e exagerado. Prefiro a filosofia das feiras: aperta que cabe mais um, organizando direitinho a gente faz a bagunça funcionar pra todo mundo. E na feira um videogame esquisito é só um videogame esquisito, e a gente se entende (ou desentende) com ele desse jeito.

fotografia de Dani Amorim



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